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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sobre o Alzheimer



           "Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.
          O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.
          Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que.....', frase que me dá arrepios.
          E o que fazer... para evitarmos essas drogas? Como?
          Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida 'bandida'.
          Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo, nunca, pois dali só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.
          Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos.. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
          Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas
medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.
          Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum...Preocupante). Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade. Parodiando Maiakovski, que disse 'melhor morrer de vodca do que de tédio', eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer."

Autor: Roberto Goldkorn (Psicólogo e Escritor)

Dicas para escapar do Alzheimer

         Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.
         Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a 'aeróbica dos neurônios', é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro. Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.
        Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios 'cerebrais' que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando- se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional.

Tente fazer um teste

- Use o relógio de pulso no braço direito;
- Escove os dentes com a mão contrária da de costume;
- Ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando isso num parque);
- Vista-se de olhos fechados;
- Estimule o paladar, coma coisas diferentes; (conheço tanta gente que só quer comer a mesma coisa)
- Veja fotos de cabeça para baixo;
- Veja as horas num espelho;
- Faça um novo caminho para ir ao trabalho.

        A proposta é mudar o comportamento rotineiro! Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro. Vale a pena tentar!
        Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado?


Postado por: Liliane de Oliveira

quinta-feira, 21 de abril de 2011

“Os indivíduos devem se tornar a um só tempo solidários e a cada vez mais diferentes” ¹

Na obra “As três ecologias”, o pensador Félix Guatari manifesta toda a sua indignação perante um mundo que vem se deteriorando lentamente, através dos desequilíbrios ecológicos, onde acidentes químicos e nucleares se tornaram comuns e algumas doenças são incuráveis.
 Esses fenômenos, se não forem remediados, ameaçam a vida do homem no planeta. A vida social dos indivíduos também tem se deteriorado aos poucos, as redes de parentesco são reduzidas a cada dia, a vida doméstica é suplantada pelo consumo, a convivência dos casais e das famílias vive uma espécie de padronização de comportamentos e as relações entre os vizinhos estão cada vez mais escassas e os governos parecem ter apenas uma consciência parcial dos problemas que ameaçam o meio-ambiente, restringindo-se ao campo dos danos industriais.
            Segundo Guattari, somente uma articulação ético-política entre as três ecologias (o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana) é que poderia esclarecer tais questões. Porém, diz ele, “Não sou tão ingênuo e utopista para pretender que existiria uma metodologia analítica segura que erradicasse em profundidade todos os fantasmas que conduzem a retificar a mulher, o imigrado, o louco etc, e eliminasse as instituições penitenciárias, psiquiátricas etc. Mas parece-me que uma generalização das experiências de análise institucional (no hospital, na escola, no meio urbano...) poderia modificar profundamente os dados desse problema. Uma imensa reconstrução das engrenagens sociais é necessária para fazer face aos destroços da globalização[2]. Só que essa reconstrução passa menos por reformas de cúpula, leis, decretos, programas burocráticos do que pela promoção de práticas inovadoras, pela disseminação de experiências alternativas, centradas no respeito à singularidade e no trabalho permanente de produção de singularidade, que vai adquirindo autonomia e ao mesmo tempo se articulando ao resto da sociedade. Dar lugar para as brutais desterritorializações da psique e do socius, [...] pode conduzir [...] a reconversões de Agenciamentos que transbordam por todos os lados o corpo, o Ego, o indivíduo. As comunidades humanas imersas na tormenta tendem a se curvar sobre si mesmas, deixando nas mãos dos políticos profissionais o cuidado de reger a organização social, enquanto [...] a sociedade [...] encontra-se em crise latente e manifesta.” (p.44)
            Há uma necessidade urgente de rever o contrato, a base que sustenta a sociedade, desta forma, Guattari orienta na sua teoria que: “A ecologia social deverá trabalhar na reconstrução das relações humanas em todos os níveis, do socius. Ela jamais deverá perder de vista que o poder capitalista se deslocou, se desterritorializou, ao mesmo tempo em extensão - ampliando seu domínio sobre o conjunto da vida social, econômica e cultural do planeta -  e em "intenção", infiltrando-se no seio dos mais inconscientes estratos subjetivos.” (p.33)
As palavras acima citadas e o título escolhido exprimem exatamente o que deveria acontecer em relação aos problemas vistos e vividos pela sociedade atual, problemas estes que nada mais são que os resultados de uma evolução que se fez necessária. Não adianta dizer que as coisas estão erradas e delegar aos outros que as (re)organizem. Precisamos entender que o que estamos vivenciando hoje é fruto das escolhas que fizemos e atitudes que tomamos em um passado não muito distante. Queremos, com isso, dizer que todos devemos nos responsabilizar pelo “mundo que criamos” e buscar alternativas criativas para uma (re)evolução em sentido contrário ao que presenciamos até aqui.
           Propomos que a partir de agora todos tentem enxergar as mudanças positivas que estão ocorrendo e que ainda podemos proporcionar, mas é claro que não devemos fechar os olhos para tudo aquilo que continua errado e incongruente, pois é exatamente quando temos conhecimento destas falhas que conseguimos elaborar estratégias para “vencê-las”.


[1] Frase extraída da página 55 do texto “As Três Ecologias” de Félix Guattari com tradução de Maria Cristina F. Bttencourt.
[2] Modificamos a sigla CMI pela palavra Globalização por acreditar que esta é mais adequada ao que queremos expor nesta reflexão.



(Para assistir ao vídeo, recomendamos que dê uma pausa na música ambiente do blog.
Por se tratar de um vídeo criado com propósito comercial, pedimos que desconsidere a propaganda da marca e aproveite a mensagem que está sendo transmitida.)

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Bibliografia:
       Guatari, Félix; tradução de Maria Cristina F. Bittencourt. As três ecologias - 6ª ed.; Campinas - SP: Papirus, 1997.

Afinal, o que é saúde?

           Com base nas bibliografias utilizadas, me atrevo a concluir que tanto o conceito de saúde da OMS (Organização Mundial de Saúde) quanto o do modelo biomédico (conforme texto de Capra) são precários e não descrevem com eficácia o que é saúde, sendo assim, deixam a desejar na explicação do processo de saúde-doença vivido pela população.

           Vimos, a partir do texto de Canguilhem, que o conceito de saúde não pode ser generalizado, pois pode variar de um indivíduo para o outro ao mesmo passo que variam as condições de vida de cada um. Somos seres adaptáveis, ou seja, nos adaptamos ao meio em que estamos e assim criamos as resistências necessárias para nos mantermos saudáveis. Isso é facilmente observado quando fazemos uma viagem a um local com condições climáticas diferentes do nosso local de origem, nosso corpo não está acostumado às novas condições, o que pode nos propiciar uma enfermidade. Quando falamos de saúde, devemos considerar as condições reais da pessoa que está sendo analisada, pois por mais parecidos que sejamos uns dos outros, nossos organismos, muitas vezes, funcionam de maneiras distintas, isto é, o que para um é remédio, para outro pode ser veneno.

           Não devemos, porém, descartar os conceitos de saúde que foram criados até agora, pois foi a partir deles que conseguimos ampliar o foco sobre esta questão. A partir do que foi estudado até hoje, conseguimos nos questionar sobre o processo de saúde-doença. Saúde não significa ausência de doença, e sim novas normas que o corpo e a mente encontram para se adaptar a novas condições e doença, muitas vezes, não é algo externo ao nosso corpo, ela apenas aparece quando nossas imunidades e/ou capacidades de normatização estão fragilizadas.

           Em um século onde a medicina se preocupa mais em medicar do que ouvir seus pacientes, fica realmente complicado amparar e (re)educar estas pessoas para uma “autonomia saudável”. Esta autonomia está em o indivíduo perceber que o processo de saúde, ou “cura da doença”, como é comumente denominado pelos usuários do sistema de saúde, depende muito mais dele do que dos remédios que ele retira no posto de saúde, pois de nada adianta tomar dúzias de remédios se o indivíduo desconsiderar que ele próprio também pode intervir sobre o seu bem estar.

           Necessitamos urgentemente de uma visão mais ampla sobre os indivíduos, precisamos (re)aprender a analisar as pessoas de uma forma mais holística e sistêmica, considerando todas as circunstâncias e situações envolvidas na vida e no cotidiano de cada um.


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Bibliografia:

           CAPRA, Fritjof; tradução de Álvaro Cabral. O Ponto de Mutação - 33ª ed.: Cap. 5 – O modelo biomédico; São Paulo: Cultrix, 2007.

           CANGUILHEM, Georges; tradução de Maria Thereza Barrocas e Luiz Octávio Leite. O normal e o patológico – 5ª ed.: Cap. IV – Doença, cura, saúde; Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.


 
Elaboração: Liliane de Oliveira
Postado por: Liliane de Oliveira