Breve histórico da surdez
A comunicação de indivíduos surdos vem passando por uma série de mudanças desde o século XVI, em que os modos de educação para surdos era diferente da LIBRAS atual e só disponibilizada para nobres. Já no século XVIII a educação para surdos se torna obrigatória. Porém, no século XIX há um retrocesso e a língua de sinais é abolida pelo congresso de Milão. No início do século XX e até meados, a oralização é obrigatória e a língua de sinais abolida. Apenas em 2002 é deferida a Lei nº 10.436 de 24 de abril que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
O indivíduo surdo e sua família
A família tem um significado cultural na sociedade e na estruturação do sujeito. Tem a função de transmitir a cultura e suas tradições e lutar pela manutenção das mesmas. É ela que indica, para a criança, que há normas para respeitar a lei da comunidade, onde cabe a primeira educação e a aquisição da língua materna. Para os surdos filhos de pais surdos, a família exerce sua função de transmissão da língua e cultura de forma espontânea. Para os surdos filhos de pais ouvintes, a família passa por um processo particular para exercer a transmissão da língua e da cultura, passando por:
• Sentimentos de impotência, culpa, fracasso, perda de controle, confusão, negação, vergonha...;
• A família, muitas vezes, necessita de um tempo maior para assimilar e se adaptar a esta situação que é nova e desconhecida;
• O vínculo entre pais e filho pode ficar comprometido;
• Resistência à aquisição da Libras, pois esta denuncia a “doença”.
O indivíduo surdo na escola
A escola bilingue vem para subverter essa realidade ao proporcionar uma condução pedagógica pautada no duplo valor político: como uma construção histórica, cultural e social e entendido como as relações de poder e conhecimento que atravessam e delimitam o processo educacional. Independentemente do método de educação a escola marca o inicio de um novo tempo: sair do isolamento e encontrar com seus iguais, possibilitou discussão da comunidade surda, organização de associações, protesto contra discriminação e luta por direitos. Mas em geral descrevem esse período como muito sofrido. Surgem problemas emocionais e de comportamento, tendo um significativo abandono da escola. A comunidade surda possibilita aos surdos um suporte para a constituição de sua subjetividade – ser surdo. O encontro com a comunidade surda permite-lhes sair do lugar do diferente, do excluído, do estranho que se sentia em sua família de ouvintes, para o lugar de pertencimento, efetivamente conseguem estabelecer uma relação de troca. Os surdos mais velhos se tornam modelos de identificação, ocupam um lugar privilegiado, de lideres, preenchem o ideal de identificação e acabam exercendo a função do pai simbólico na comunidade.
O indivíduo surdo e o trabalho
Através do trabalho o indivíduo pode alcançar autonomia, independência e dignidade. O trabalho é fundamental para que o indivíduo estabeleça laço social no meio em que vive. Com o surgimento das associações de surdos, entre 1866 e 1893, foi aberto um espaço para discussão dos problemas dos operários, dos sindicatos, etc, propiciando treinamento para os surdos para uma qualificação melhor, bem como nas negociações na busca de conquistas legais de garantia de educação e trabalho. Conseqüentemente, os surdos puderam ascender socialmente no emprego. O discurso veiculado pelas escolas de surdos e pelas associações, no esforço de demonstrar as competências e eficiência dos surdos, reforça o paradigma da deficiência. Capacitar deve significar prazer àquele que faz e com o que faz. A capacitação profissional, assim compreendida e abordada, possibilita ao surdo participar da sociedade, da construção da cultura e da cidadania. Se pensarmos pelo lado da comunidade surda, é um direito dela participar e cobrar políticas sociais que articulem e mobilizem os governantes para um olhar às diferenças e não para as deficiências. Esse é o grande desafio. Poder olhar para os surdos como sujeitos produtivos, participantes do tempo histórico a qual estão inseridos. Para a comunidade surda é muito importante que seus membros possam ter independência econômica, autonomia, etc.
O atendimento psicológico para surdos
Com o paradigma sócio-antropológico emergiu o reconhecimento da língua de sinais e de sua importância para a constituição psíquica do sujeito surdo. Conseqüentemente, os surdos têm seu desenvolvimento cognitivo, linguístico, social e cultural garantido, possibilitando o pleno uso de seu potencial enquanto sujeito constituído psiquicamente por uma modalidade diferente e, não deficiente.
Alguns impasses ao atendimento a estas pessoas são:
· Comunicação – Linguagem
“(...) no caso das pessoas surdas a língua é uma importante característica definitiva. Diferente da cegueira ou das incapacitações ligadas ao movimento, por exemplo, a surdez é invisível. Ela só se torna visível quando a pessoa surda se envolve em alguma ação comunicativa. O grupo de pessoas surdas define-se como “uma população cuja capacidade distintiva consiste no uso necessário de um sistema lingüístico que não exige comunicação auditiva/oral”.
· Cultura – estrangeirismo
Entender que os surdos fazem parte de outra comunidade lingüística é encará-lo como diferente uma vez que sua visão de mundo passa pelo canal-espaço visual. É também respeitá-lo em sua cultura e em seus direitos a uma vida digna enquanto cidadãos de uma comunidade minoritária. É devolver-lhe a voz que lhes foi roubada para poderem usufruir seus direitos de cidadãos.